quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Cenair Maicá


  Quisera um dia cantar com o povo
Um canto simples de amor e verdade,
Que não falasse em miséria nem guerra
Nem precisasse clamar liberdade...

     Cenair Maicá nasceu na cidade de Tucunduva, em 3 de maio de 1947. Já aos 10 anos enveredou na música nativista, em companhia de seu irmão Adelqui Maicá. Mas ele queria mais. Junto com seus amigos missioneiros Noel Guarany e Pedro Ortaça, enalteciam a alma guarani dos missioneiros e criaram uma música autêntica, nativa, de raiz missioneira.
     Começou sua carreira fazendo costado ao saudoso José Mendes e deixou seu primeiro marco na música nativista ao ganhar o 7.º Festival do Folclore Correntino, em Santo Tomé, na Argentina. A música, de composição dele e de Noel Guarany, Fandango de Fronteira (Vou te contar bem direitinho do Fandango da Fronteira/Vanerão se dança xote, também se dança rancheira/Os gaúchos são valentes e as chinocas são faceiras/E os índio tine a espora no balanço da vaneira...” foi a obra prima. A partir daí, ficou conhecido em todo o país de três bandeiras.
     Depois desta vitória, gravou com Noel Guarany um disco compacto chamado Filosofia de Gaudério.
     Sua voz, grave e suave, cantava as coisas simples dos gaúchos missioneiros, índios, balseiros, agricultores. Mas a voz de Cenair entoava músicas que criticavam as dificuldades passadas pelos homens do campo e as políticas que olvidavam do nosso torrão gaúcho, como a música João Sem Terra. Pero sem falar em uma das músicas mais lindas do nosso Rio Grande Canto dos Livres, por acaso ou não, feita na época que os milico tomavam conta do Brasil.
     Com 17 anos, sofreu um acidente de carro, onde perdeu um rim, que teve papel importante na sua morte.
     Compôs músicas que deixam qualquer cuera emocionado e orgulhoso do chão onde vive. Balaio, Lança e Taquara, Homem Rural, Rio de minha Infância e muitas outras que, se eu empeçar a falar todas se vai o chasque... Sem falar nas músicas que ele emprestou a voz, como Clave de Lua, Balseiros do Rio Uruguai, Última Lembrança... Bah, só música ajeitada.
     Por cantar as coisas do pago e defender a música missioneira, ele ainda foi considerado um dos 4 troncos missioneiros, junto com os grandes Noel Guarany, Pedro Ortaça e o grande Payador, Jayme Caetano Braun.
     Em 1978, gravou seu primeiro disco solo, que foi produzido pelo Noel Guarany, dono também de 4 músicas do disco. E bota disco bem ajeitado, com músicas lindaças, que fazem o gaudério muntar no pingo da imaginação e navegar pelas águas do velho Rio Uruguai. Depois deste, vieram outros discos, não menos importantes e Buenos, que trataram de consagrar ainda mais este cerne missioneiro e gaúcho.
     Cenair cantava a alma das missões, o índio missioneiro, tanto que, na música Km 11, Cenair canta uns trechos em espanhol e outros em guarani, o que deixou a música ainda mais linda do que já era.
     Campeando pelas internet, encontrei trecho de uma entrevista dele, que mostra a retidão e a consciência do cantor como alguém que fala por seu povo:
"Eu acho que o músico, além de cantar as coisa alegres, a paisagem, a história, tem o dever de ser útil ao povo com o qual convive no dia-a-dia. Então eu procuro, dentro da minha música, dizer alguma coisa que possa motivar ou sensibilizar pessoas no sentido de resolver certos problemas de nosso povo. Porque nós, os artistas, temos uma força na mão, que é o instrumento, e temos a oportunidade de nos comunicar com o povo através dos canais de divulgação. Então temos o dever de ser útil ao povo" — declaração feita ao jornal Cotrifatos, da Cooperativa Tritícola de Santa Rosa (Cotrisa), em agosto de 1983.

     Mas, como diria o próprio Jayme “Mas tudo que é bom, se termina, cumpriu-se o velho ditado...” Cenair teve complicações na colocação de uma prótese femural, causando infecção hospitalar, ajudada pela falta daquele rim que se foi no acidente e terminou se bandeando pros pagos de cima em 2 de janeiro de 1989.
     Este cantante se foi, mas sua alma guarani ficou viva em suas músicas e servem de manancial pra muitos gaúchos que querem se aventurar a cantar pra nossa gente.
     Contei, de forma resumida, a história de um cantor presente em minha vida desde a infância, onde ouvia seus discos com meu pai e sigo ouvindo até hoje. Música buena, música de raiz, música nossa, que fala a língua desse povo guerreiro e forte do nosso torrão gaúcho.


Discografia

1970 - Filosofia de Gaudério (com Noel Guarany)

(SEM FOTO)

1978 - Rio de Minha Infância
1980 - Caminhos

1983 - Canto dos Livres
1985 - Companheira Liberdade

(SEM FOTO)

1985 - Meu Canto
1988 - Troncos Missioneiros (com Noel Guarany, Jayme Caetano Braun e Pedro Ortaça).

As imagens dos discos que eu encontrei foram colocadas. 


Fontes:

No mais, SUERTE pros amigo!

Um comentário:

  1. Buenas amigo. . . Fiquei emocionada com teu post, pois tbm ouço essas obras primas tradicionalistas desde a infância. No meu i-phod só ta tocando no momento Km 11,aquele sotaque guarany me arrepia. Amo o Cenair Maicá, Pedro Ortaça, Adair de Freitas , etc ... Continue com seus posts muy lindos barbaridade. Abração . Luciane Porto Alegre.

    ResponderExcluir